Nuno da cunha Lobo Souto Maior – RJ
– Doutor (o fiscal sempre é doutor formado ou não), é verdade, empregado não os tenho e se os tivera o doutor pode acreditar em mim, estariam todos registrados. Mas se o doutor quiser pode entrar.
Esta última frase “pode entrar”, acompanhada por um largo gesto, também foi dita em tom mais alto que o da conversação normal. “Pode entrar” repetiu o sr. Antônio mais algumas vezes.
O fiscal ponderou que não havia necessidade de tal invasão na parte residencial da tinturaria. Tinha a certeza da existência de mais gente trabalhando e não ficaria bem para ele ser desmoralizado perante seus empregados, dentro de casa, perante D. Maria, sua esposa. Foi dado novo prazo para a apresentação, uma nova NAE (o equivalente as atuais NAF, até na apresentação).
– Quando o doutor quiser, reforçou sr. Antonio. Empregados não os tenho, quando tiver estarão todos registrados. A lei é para ser cumprida. Quantas vezes vier, o Doutor será bem-vindo. Quando quiser pode entrar.
Ante a insistência do sr. Antônio para entrar em sua residência, o fiscal avisou ao tintureiro:
– Já que o senhor insiste, vou-lhe mostrar que há mais gente trabalhando.
– Não seja por isso, pode entrar.
Entra o fiscal na parte residencial e encontra quatro tábuas-de-passar-roupa com quatro ferros descansando, desligados, em posição. Com cuidado, encostou a mão no primeiro estava quente; idem o segundo. Quando se encaminhava para os outros dois, na sequência, o sr. Antonio explicou antes de mais nada: